No final dos anos 70, o punk era um estilo popular, mas ao
mesmo tempo era rejeitado pelos
"entendidos" de música. Aliás, tradicionalmente falando, sempre foi
assim. O hard rock farofa dos anos 80 também era massacrado, bem como o grunge
na década seguinte.
O argumento de quem não gostava do gênero, era a falta de
criatividade do punk que sempre se resumia em três ou quatro acordes e em
alguns casos até o fato de empresários dizerem o que a banda deveria tocar e
como ela deveria agir.
Provavelmente por causa dessa herança, o Clash, que já havia
lançado dois discos até então, optou pela liberdade de escrever o que quisesse
e tocar suas músicas como bem entendesse.
Partindo disso, nasceu London Calling, um dos discos mais
conceituais e fundamentais não só da história do rock n' roll, mas da música de
um modo geral.
A associação do disco como algo clássico já começa antes
mesmo de se dar o play. A capa, que tem Paul Simonon arremessando seu baixo no
chão, faz lembrar a capa do não menos clássico Elvis Presley, de 1956.Alem de
ser uma síntese, a banda chutava o pau da barraca no que dizia a respeito de
ser independente e fazer o que bem entendesse.
"London Calling", apesar de ser um hino do punk, sua levada
faz o ouvinte ter uma certeza: O Clash estava anos luz à frente de seu tempo.
As guitarras ritmadas em contratempo, o baixo bem marcado e a bateria de certo
modo, dançante, fazem remeter a coisas muito posteriores criadas no rock alternativo,
fato incontestável.
"Clampdown", traz como
base o punk rock, de três acordes mesmo. Embora, a sua parte mais interessante
seja o verso inicial, com o baixo em ritmo quase cavalar e a sequência de
acorde em uma espécie de fade-out, dando aquele tom clássico de músicas de fins
de um tempo.
"Hateful", é uma das melhores peças não só desse álbum, mas como
de toda a carreira da banda.
Em todo caso, London Calling foi muito além apenas do punk,
do rock alternativo e do pop. A banda faz uma espécie de viagem à Jamaica, se
aventurando por estilos como o reggae e o ska, como na animadíssima "Revolution
Rock", que apesar do nome, é um reggae, seu ritmo alegre e sua letra que faz uma
espécie de apresentação a essa nova batida.
Aliás, variedade de estilos é o que mais chama a atenção no
álbum. Punk, reggae, rockabilly, bebop, ska, R&B, pop, lounge jazz, hard
rock e baladas: isso tudo em 19 faixas emocionantes. Começa com a já citada e apocalíptica
e hipnótica faixa título, que abre mão do usual verso/refrão/verso ao optar por
uma melodia circular forte e impactante. Na seqüência, o rockabilly “Brand New
Cadillac", versão para uma canção dos anos 60, de Vincy Taylor. A próxima,
"Jimmy Jazz", é um bebop,enquanto o reggae "Rudie Can’t
Fail" elogia os jovens que batalharam por seus sonhos nos 60 lutando
contra os velhos que os oprimiam. A empolgante "Spanish Bombs" fala
sobre a guerra civil espanhola enquanto "The Right Profile" conta o
desespero de ser gay na Hollywood dos anos 50 em clima jazz cabaré.
A ótima e ácida "Lost in The Supermarket" tem
uma bateria marcada tipo la “house music” , para falar, com fina ironia, sobre
a alienação e solidão das grandes cidades. "Clampdown" é rock de
arena, tanto na melodia quanto na letra. A letra pede para que os jovens não
vendam seus sonhos para o mundo frio do capitalismo, enquanto a música é
cantada em forma de corrida militar em que os soldados (trabalhadores) se
alternam em frases-respostas para o sargento (vocalista). "The Guns of
Brixton", única música de Paul Simonon no disco, é reggae pesado e denso.
A roqueira "Death or Glory" é o tipo de música em que o título fala por
si só, fazendo alusão aos músicos que diziam que iriam morrer antes de ficarem
velhos. "The Card Cheat" lembra Phil
Spector entupido de dramaticidade, enquanto "Lover’s Rock" é doce e
pop. Para o final, o single não transcrito nem na capa nem no encarte que não
iria entrar no disco porque soava tão pop que poderia assustar os punks. Acabou
entrando no álbum de última hora, quando a arte do disco já estava toda pronta:
"Train in Vain", uma deliciosa balada pop que bateu o numero 23 da
parada de singles norte-americana, feito surpreendente para uma canção de
origem punk.
Se fosse preciso escolher os melhores discos como a obras primas pop de todos os tempos, este seria um dos eleitos.
London Calling recebeu tantas criticas positivas que, em
2007, foi introduzido ao Grammy Hall of Fame, uma coleção de gravações de
grande qualidade ou relevância histórica. Vale a pena ouvir.
Em suma, London Calling faz uma expedição por vários
estilos, imprimindo vários tipos de sons e levando suas letras muito além da
simples sede pelo protesto. Ou seja, como já foi dito anteriormente, é um disco
fundamental não só do rock. É fundamental para os apreciadores da boa música.
Discasso,classico absoluto.Fusão de estilos.
ResponderExcluirParabens pela resenha e pelosite!