Sempre fui apaixonado por rock nacional, especialmente das
bandas que surgiram nos anos 80/90. Lembro-me do primeiro disco adquirido (presente
da minha mãe), Radio Pirata ao Vivo/RPM, Lançado em 1986 e foi febre naquela época...Tocou pra caramba e
vendeu mais ainda. Devido a explosão do rock nacional foi apenas questão de
tempo conhecer; Titãs, Ira!, Legião, Paralamas, Engenheiros, Uns e Outros,
Nenhum de Nós, Barão Vermelho, Kid Abelha, Heróis da Resistência, Capital,
Ultraje à Rigor...
Como em todo movimento musical foi produzido muita música de
qualidade e outras nem tanto. Acredito que o que tinha conteúdo e foi relevante
permaneceu através do tempo, independente da continuidade das bandas.
A partir de hoje vou tentar fazer um post semanal dedicado
aos álbuns considerados clássicos do rock Brazuca.
Pra começar escolhi o álbum “Dois” da Legião Urbana.
O primeiro e (ótimo) trabalho da Legião foi em 1984 e trazia
fortes influências do punk e new wave, emplacou sucessos como, Será , Ainda é
cedo, Por enquanto... Porém a
consagração viria mesmo com o segundo disco da banda, DOIS, lançado em 1986.
O disco abre com uma gravação ao vivo do trecho final da
música “Será”, porém as semelhanças com o primeiro disco param por aí, Dois tem um clima folk, e com muitas músicas com arranjo semi-acústico em boa parte do álbum.
Daniel na cova dos leões é a segunda “entregada” de Renato
Russo sobre sua opção sexual; já em Soldados, do primeiro LP, ele
indiretamente mostrava o que se tornaria explícito em Meninos e meninas de
1989: sua homossexualidade. Daniel..., mostra claramente os conflitos de
Renato: “Aquele gosto amargo do seu corpo [...] De amargo então, salgado ficou
doce”.
Quase sem querer é um dos hits deste disco, letra triste,
melancólica e poética, tudo misturado num arranjo folk inesquecível já na
primeira audição.
Acrilic on Canvas evidenciam a influência de bandas como
Joy
Division e New Order. A letra é obscura e mórbida, porém a levada do baixo
acompanhadas de teclados casaram bem com o
clima dark da canção.
Eduardo e Mônica foi feita em 1982 e diz a história que é baseada no caso do antigo produtor executivo
da Legião, Rafael Borges, e sua esposa na época . Essa também foi hit absoluto.
Central do Brasil, que possui apenas arranjo instrumental,
cria um clima triste e melancólico.
Tempo Perdido talvez tenha a introdução mais conhecida do
rock nacional. Nessa faixa a voz de
Russo lembra Morrissey (a maneira que Renato dançava no palco era nitidamente
influenciada pelo líder dos Smiths) ,a letra é linda e o final clássico. Logo
depois há outro instrumental.
Metrópole lembra a fase punk da banda.
Dizem que a letra foi amenizada, pois a original era mórbida e suicida.
Música Urbana 2 possui um tom obscuro e uma levada blues. O número “2” é devido ao fato de o Capital
Inicial ter lançado uma música homônima no seu primeiro LP de 1986, com
participação de Renato na composição da letra.
Andréa Doria é outra música triste, onde é tratado o tema da
separação. Renato está incisivo: “Mas percebo agora que o teu sorriso vem
diferente, quase parecendo te ferir”, para concluir de maneira resignada e
melancólica: “Nada mais vai me ferir. É que eu já me acostumei, com a estrada
que eu segui com minha própria lei”. Deprê total.
Fábrica mostra uma Legião gritante para os problemas
sociais, Renato Rocha tocando um baixo exuberante.
Em seguida, Plantas Embaixo do Aquário, uma das mais
estranhas composições da carreira da Legião , ela é bem repetitiva, tendo na
verdade poucos versos que não pertencem ao refrão, além de frases em inglês e francês.
A letra soa mais como um aviso; Não deixe
a guerra começar...
Por fim, Índios, tem um ciclo interessante;
o teclado vai subindo juntamente com a voz de Renato, dando a impressão de que um
coro inteiro de “índios” canta junto; o refrão figura entre os mais bonitos já compostos por Renato e o final, só com violão e um efeito, é
perfeito.
Uma curiosidade; inicialmente, a ideia do grupo era lançar
um álbum duplo que se chamaria: “Mitologia e Intuição”, mas a gravadora vetou o
projeto, e Dois acabou sendo uma espécie de “catado” das faixas registradas
para o projeto original.
Após este disco a Legião lançaria “Que pais é este”
retomando a linha punk da banda. Portanto, Dois torna-se um disco que fecha o
ciclo juvenil e inocente da banda, apontando para novos caminhos e novas
possibilidades. Além disto, é um dos discos com mais hits juntos que já ouvi.
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