quarta-feira, 30 de abril de 2014

Clássicos do Rock Nacional; Dois - Legião Urbana

Sempre fui apaixonado por rock nacional, especialmente das bandas que surgiram nos anos 80/90. Lembro-me do primeiro disco adquirido (presente da minha mãe), Radio Pirata ao Vivo/RPM, Lançado em 1986 e foi  febre naquela época...Tocou pra caramba e vendeu mais ainda. Devido a explosão do rock nacional foi apenas questão de tempo conhecer; Titãs, Ira!, Legião, Paralamas, Engenheiros, Uns e Outros, Nenhum de Nós, Barão Vermelho, Kid Abelha, Heróis da Resistência, Capital, Ultraje à Rigor...
Como em todo movimento musical foi produzido muita música de qualidade e outras nem tanto. Acredito que o que tinha conteúdo e foi relevante permaneceu através do tempo, independente da continuidade das bandas.
A partir de hoje vou tentar fazer um post semanal dedicado aos álbuns considerados clássicos do rock Brazuca.
Pra começar escolhi o álbum “Dois” da Legião Urbana.

O primeiro e (ótimo) trabalho da Legião foi em 1984 e trazia fortes influências do punk e new wave, emplacou sucessos como, Será , Ainda é cedo, Por enquanto...  Porém a consagração viria mesmo com o segundo disco da banda, DOIS, lançado em 1986.

O disco abre com uma gravação ao vivo do trecho final da música “Será”, porém as semelhanças com o primeiro disco param por aí, Dois tem um  clima folk, e com muitas músicas com arranjo semi-acústico em boa parte do álbum.

Daniel na cova dos leões é a segunda “entregada” de Renato Russo sobre sua opção sexual; já em Soldados, do primeiro LP, ele indiretamente mostrava o que se tornaria explícito em  Meninos e meninas de 1989: sua homossexualidade. Daniel..., mostra claramente os conflitos de Renato: “Aquele gosto amargo do seu corpo [...] De amargo então, salgado ficou doce”.

Quase sem querer é um dos hits deste disco, letra triste, melancólica e poética, tudo misturado num arranjo folk inesquecível já na primeira audição.
Acrilic on Canvas evidenciam a influência de bandas como 
Joy Division e New Order. A letra é obscura e mórbida, porém a levada do baixo acompanhadas de teclados casaram bem com o  clima dark da canção.

Eduardo e Mônica foi feita em 1982 e diz a história que  é baseada no caso do antigo produtor executivo da Legião, Rafael Borges, e sua esposa na época . Essa também foi hit absoluto.
Central do Brasil, que possui apenas arranjo instrumental, cria um clima triste e melancólico.

Tempo Perdido talvez tenha a introdução mais conhecida do rock nacional. Nessa faixa  a voz de Russo lembra Morrissey (a maneira que Renato dançava no palco era nitidamente influenciada pelo líder dos Smiths) ,a letra é linda e o final clássico. Logo depois há outro instrumental.
Metrópole lembra a fase  punk da banda.  Dizem que a letra foi amenizada, pois a original era mórbida e suicida.

Música Urbana 2 possui um tom obscuro e uma levada blues.  O número “2” é devido ao fato de o Capital Inicial ter lançado uma música homônima no seu primeiro LP de 1986, com participação de Renato na composição da letra.
Andréa Doria é outra música triste, onde é tratado o tema da separação. Renato está incisivo: “Mas percebo agora que o teu sorriso vem diferente, quase parecendo te ferir”, para concluir de maneira resignada e melancólica: “Nada mais vai me ferir. É que eu já me acostumei, com a estrada que eu segui com minha própria lei”. Deprê total.
Fábrica mostra uma Legião gritante para os problemas sociais, Renato Rocha tocando um baixo exuberante.
Em seguida, Plantas Embaixo do Aquário,  uma das mais estranhas composições da carreira da Legião , ela é bem repetitiva, tendo na verdade poucos versos que não pertencem ao refrão, além de frases em inglês e francês. A letra soa mais como um aviso; Não deixe a guerra começar...
Por fim, Índios, tem um ciclo interessante; o teclado vai subindo juntamente com a voz de Renato, dando a impressão de que um coro inteiro de “índios” canta junto; o refrão figura entre os mais bonitos já compostos por Renato e o final, só com violão e um efeito, é perfeito.


Uma curiosidade; inicialmente, a ideia do grupo era lançar um álbum duplo que se chamaria: “Mitologia e Intuição”, mas a gravadora vetou o projeto, e Dois acabou sendo uma espécie de “catado” das faixas registradas para o projeto original.



Após este disco a Legião lançaria “Que pais é este” retomando a linha punk da banda. Portanto,  Dois torna-se um disco que fecha o ciclo juvenil e inocente da banda, apontando para novos caminhos e novas possibilidades. Além disto, é um dos discos com mais hits juntos que já ouvi.

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