segunda-feira, 14 de abril de 2014

Faith no More - Angel Dust

Na última postagem falei sobre o álbum The Real Thing, e no fim da postagem disse que comentaria sobre o o trabalho que viria a suceder o mesmo.Há 22 anos atrás, na época em que foi lançado Angel Dust,eu era leitor assíduo e assinante da Revista(impressa) BIZZ. Pois bem, lembro que que foi criada uma certa expectativa a respeito do novo trabalho da banda, e lembro também da resenha(muito boa) que saiu na Bizz, texto do André Forastieri ...Não vou comentar sobre  Angel Dust, e sim reproduzir esse texto escrito no ano de 1992.



"A gravadora London disse que esse álbum é suicídio comercial para o Faith No More. E é mesmo. Não tem nada a ver com The Real Thing, Epic, Edge Of The World, todo mundo cantando junto e balançando as mãos e tascando sorvete na testa.
Não, isso é um esporro -purulento -paranóico-escroto- sanguinolento, cérebros explodindo multidirecionalmente, picas frustradas se ralando no cimento e sangrando em cima de crianças miseráveis morrendo de fome.
Demônios à solta. Adeus fãzinhas púberas, adeus MTV, adeus tudo. Não tem uma porra de um sucesso neste disco. O Faith No More foi longe demais.

Midlife Crisis, o primeiro single, dá uma pista do disco mas não entrega o jogo. O próximo (A Small Victory) é a coisa mais "fácil" de Angel Dust, mas suas possibilidades de sucesso foram abortadas com sete meses - os caras botaram um trecho completamente anticomercial e esquisito no meio.
Por que esse desejo de se matar? Não vem ao caso, mas é quase grande arte.


Angel Dust é Frankenstein: pedaços de gêneros estabelecidos que não estão mortos mas já fedem -metal, hip-hop, country, thrash - fundidos numa criatura única, simultaneamente podre e rebimbando de vitalidade.

O NME chamou de schizo.core, hardcore esquizofrênico. É um bom rótulo, mas não é suficiente.
Seguinte: não tem uma letra simples no álbum. Daria para dizer que são quase poemas se não fosse soar tão pretensioso, poemas no sentido William Burroughs da coisa.
Exemplo 1: "os balanços do parquinho não me acomodam mais/folclore: ninguém deveria acreditar que no próximo ano tem aula/escreva cem vezes"(em "Kindergarten").
Exemplo 2: "Chegou a hora de falar com meus filhos/vou dizer a eles exatamente o que meu pai me disse/ VOCÊ NUNCA VAI DAR EM NADA" (em "RV").
O detalhe é que não tem uma letra que dê para cantar junto. A estrutura das músicas não permite, e a voz de Mike Patton varia radicalmente e vai do velho falsete (pouco usado) a puro terror thrash a baladeiro canastrão.
É tão absurdo que no primeiro lado, logo depois de Midlife Crisis, tem uma música que parece Frank Zappa ("RV") seguida de um funk metal sujão (Everything´s Ruined) e de outra que lembra Godflesh/Sepultura, distorção no talo e vocais monstro (Malpractice).

Minha favorita, Be Agressive, lembra um pouco We Care A Lot, sugere sadomasoquismo, começa com órgão de igreja, tem coro infantil no refrão e guitarra wah-wah.

Patton está furioso: "O que outro deixaria para trás, cuspiria fora, desperdiçaria eu assumo como meu". Mas as coisas vão mesmo para o inferno em Jizzlober. É grito choro dor primal, me arrancaram do útero, um pesadelo de distorção e desespero. O que significa isso tudo?Não sei e não me importo. Vou deixar para alguém mais esperto que eu o trampo de decodificar Angel Dust."

Como sempre que possível AQUI está o link de download.

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