Na última postagem falei sobre o álbum The Real Thing, e no fim da postagem disse que comentaria sobre o o trabalho que viria a suceder o mesmo.Há 22 anos atrás, na época em que foi lançado Angel Dust,eu era leitor assíduo e assinante da Revista(impressa) BIZZ. Pois bem, lembro que que foi criada uma certa expectativa a respeito do novo trabalho da banda, e lembro também da resenha(muito boa) que saiu na Bizz, texto do André Forastieri ...Não vou comentar sobre Angel Dust, e sim reproduzir esse texto escrito no ano de 1992.
Fonte ; http://noticias.r7.com/blogs/andre-forastieri/2009/10/07/suicidio-comercial-do-faith-no-more.
"A gravadora London disse que esse álbum é suicídio comercial
para o Faith No More. E é mesmo. Não tem nada a ver com The Real Thing, Epic,
Edge Of The World, todo mundo cantando junto e balançando as mãos e tascando
sorvete na testa.
Não, isso é um esporro -purulento -paranóico-escroto-
sanguinolento, cérebros explodindo multidirecionalmente, picas frustradas se
ralando no cimento e sangrando em cima de crianças miseráveis morrendo de fome.
Demônios à solta. Adeus fãzinhas púberas, adeus MTV, adeus
tudo. Não tem uma porra de um sucesso neste disco. O Faith No More foi longe
demais.
Midlife Crisis, o primeiro single, dá uma pista do disco mas
não entrega o jogo. O próximo (A Small Victory) é a coisa mais
"fácil" de Angel Dust, mas suas possibilidades de sucesso foram
abortadas com sete meses - os caras botaram um trecho completamente anticomercial
e esquisito no meio.
Por que esse desejo de se matar? Não vem ao caso, mas é
quase grande arte.
Angel Dust é Frankenstein: pedaços de gêneros estabelecidos
que não estão mortos mas já fedem -metal, hip-hop, country, thrash - fundidos
numa criatura única, simultaneamente podre e rebimbando de vitalidade.
O NME chamou de schizo.core, hardcore esquizofrênico. É um
bom rótulo, mas não é suficiente.
Seguinte: não tem uma letra simples no álbum. Daria para
dizer que são quase poemas se não fosse soar tão pretensioso, poemas no sentido
William Burroughs da coisa.
Exemplo 1: "os balanços do parquinho não me acomodam
mais/folclore: ninguém deveria acreditar que no próximo ano tem aula/escreva
cem vezes"(em "Kindergarten").
Exemplo 2: "Chegou a hora de falar com meus filhos/vou
dizer a eles exatamente o que meu pai me disse/ VOCÊ NUNCA VAI DAR EM
NADA" (em "RV").
O detalhe é que não tem uma letra que dê para cantar junto.
A estrutura das músicas não permite, e a voz de Mike Patton varia radicalmente
e vai do velho falsete (pouco usado) a puro terror thrash a baladeiro
canastrão.
É tão absurdo que no primeiro lado, logo depois de Midlife
Crisis, tem uma música que parece Frank Zappa ("RV") seguida de um
funk metal sujão (Everything´s Ruined) e de outra que lembra Godflesh/Sepultura,
distorção no talo e vocais monstro (Malpractice).
Minha favorita, Be Agressive, lembra um pouco We Care A Lot,
sugere sadomasoquismo, começa com órgão de igreja, tem coro infantil no refrão
e guitarra wah-wah.
Patton está furioso: "O que outro deixaria para trás,
cuspiria fora, desperdiçaria eu assumo como meu". Mas as coisas vão mesmo
para o inferno em Jizzlober. É grito choro dor primal, me arrancaram do útero,
um pesadelo de distorção e desespero. O que significa isso tudo?Não sei e não
me importo. Vou deixar para alguém mais esperto que eu o trampo de decodificar
Angel Dust."
Como sempre que possível AQUI está o link de download.
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