É incrível o
fascínio que os anti-heróis exercem sobre nós quando o assunto é
cinema/series/Tv. Exemplos disso não faltam; Walter White, Hannibal Lecter,
Wolverine, Batman, Michael Corleone... Aqui no Brasil talvez o maior exemplo
de anti-herói seja o Capitão Nascimento(Tropa de Elite).
Sons of Anarchy é
acima de tudo uma estória sobre anti-heróis.
Pense no drama de
uma tragédia familiar, misturada com algum filme de gangster, adicionado de uma
boa dose de adrenalina. Pode-se dizer que Sons Of Anarchy, criação de Kurt
Sutter, é mais ou menos isso. Com uma mistura afiada de drama, ação, suspense e
até humor negro, a série conta a história do clube de motociclistas fora da lei
Sons Of Anarchy, que tem sua sede em Charming, uma cidade fictícia da
Califórnia. Clay Morrow (Ron Perlman) é o presidente, e seu afilhado, Jax
Teller (Charlie Hunnam), o vice-presidente e protagonista. A trama explora
muito bem os laços de irmandade que unem o grupo que, apesar de composto só por
homens, tem nas mulheres, principalmente nas esposas dos membros grandes pilares de sustentação dos
personagens .
A mais importante delas é Gemma (Katey Sagal), esposa de Clay.
Respeitada e adorada por todos, ela é a grande figura materna do clube. A
atriz, que na vida real é casada com Sutter, ganhou o Globo de Ouro em 2011
pelo papel. Outra figura feminina que logo ganha força é Tara (Maggie Siff),
antiga namorada de Jax na adolescência, que voltou para trabalhar no hospital
da cidade. Tara volta a se aproximar da família Teller ao cuidar do pequeno
Abel, filho de Jax, que teve um parto prematuro após sua mãe e ex-mulher de
Jax, Wendy, sofrer uma overdose. Com o nascimento do seu filho e o achado de um
manuscrito escrito por seu pai, John Teller, Jax começa a refletir sobre o
caminho que o Clube tomou. Essa “epifania” e o descobrimento de vários segredos
do passado (como a verdade sobre a morte do pai), é o que move a trama da
série, colocando as ideologias de Jax e Clay em constante colisão.
Enquanto
Clay visa apenas o lado financeiro, que envolve principalmente o tráfico de
armas, o vice-presidente fará de tudo para tirar a SAMCRO (sigla de Sons of
Anarchy Motocycle Redwood Original, nome oficial do clube) da ilegalidade e
tentar resolver os problemas e conflitos do clube sem (ou com o mínimo de)
violência — muitas vezes passando por cima de Clay. E conflito é o que não
falta. Desde gangues da Califórnia (como os mexicanos dos Mayans), passando por
uma organização de separatistas brancos, até os irlandeses do IRA (boa parte da
3ª temporada se passa na Irlanda do Norte). Isso tudo sem falar nas
organizações federais, que, volta e meia, colocam o clube na mira. Esses
conflitos internos e externos ameaçam não só o Clube como organização, mas a
unidade do grupo, que parece enfraquecer cada vez mais. Algo que o roteiro de
Sutter sempre frisa é que os Sons podem ser bandidos, mas não vilões.
Por mais
ilegal que seja a forma como eles ganham a vida, eles sempre tentam ajudar o
povo de sua cidade e se revoltam com injustiças tanto quanto qualquer cidadão
honesto. Outra característica dos personagens que é muito bem composta pelo
roteiro, é a de terem várias fases durante a série, assim como a relação entre
eles, que muda por consequência de suas próprias mudanças ou acontecimentos na
trama. Dentre todas as mudanças, naturalmente a que mais impressiona é a de
Jax. De idealista e pacificador, ele vai se deixando contaminar pelo mundo de
caos e violência em que vive e se torna uma pessoa sedenta por vingança e
disposta a tudo para chegar a seus interesses, por melhores que sejam (pelo
menos, na maioria das vezes). Jax evolui não apenas como líder, apto a tomar
decisões que poucos seriam capazes de tomar, mas como personagem, se tornando
alguém com moral algumas vezes dúbia,
capaz de tomar as mais bondosas atitudes como as mais violentas. A sua grande
mudança é construída com primor no decorrer da trama. A série frequentemente
mostra o quão sujo os personagens estão dispostos a jogar para chegar aos seus
objetivos — objetivos que, se não sempre bons, ao menos são compreensíveis
dentro daquele mundo. O que dificulta o julgamento do público: será que um bom
fim justifica um meio tão sujo ou sangrento?
Destaque para
a trilha sonora que também é um dos elementos que merecem menção.
As músicas casam perfeitamente seja com sequências de perseguições ou de
momentos mais densos da série. A trilha sonora de Sons Of Anarchy exerce um papel
fundamental na narrativa, as letras das canções retratam o estado atual da
trama e/ou dos personagens.
Destaque também
para o restante do elenco simplesmente IMPECAVEL.
No ar desde 2008, a série só recebeu duas
indicações!? a prêmios importantes: melhor música-tema original, no Emmy, em
2009; e a já citada indicação (e vitória) de Katey Sagal ao Globo de Ouro, como
Melhor Atriz em série dramática, 2011. Charlie Hunnam, por exemplo, faz um
trabalho excelente, dando toda a credibilidade que a complexidade de seu
personagem precisa. SoA foi o terceiro drama mais visto da TV paga americana,
ficando atrás apenas de The Walking Dead e Breaking Bad, além de ser a série
mais vista do canal FX, quebrando, temporada após temporada, vários recordes de
audiência. SoA é uma incrível jornada em alta velocidade sobre segredos,
traições, alianças, amor, ódio, mas, sobretudo, família. O conceito de família
está na essência, no cerne do Clube. E a estória contada por Kurt Sutter é
exatamente o que, e até onde, as pessoas vão para protegê-la.
Aqui a trilha sonora.